Páginas

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

FIGURAS DA NOSSA TERRA

Os pais do Sr. Doutor António Oliveira Salazar Os pais do Sr. Doutor António Oliveira Salazar chamavam-se António de Oliveira e Maria do Resgate Salazar. Casaram em 1881. Ele já tinha ultrapassado os quarenta anos ela ia completar trinta e seis. António de Oliveira nasceu no Vimieiro e Maria do Resgate em Santa Comba Dão. Ambos de muito boas famílias. António de Oliveira era apegado à terra. Cuidava dos seus terrenos e era feitor das quintas da família Perestrelo Botelheiro. Por altura da construção dos Caminhos de Ferro da Beira Alta abriram na sua casa, em 1882,uma estalagem onde recebiam hóspedes e davam comidas. Viveram sempre modestamente e transmitiram aos filhos essa maneira de estar na vida, nunca gastaram mais do que aquilo que se ganhava. Em Fevereiro de 1882 nascia-lhes a primeira filha que veio a ser a Marta do Resgate de Oliveira Salazar, baptizada pelo Padre António e tendo como padrinhos a família Perestrelo. Em Abril de 1883 nasce-lhes uma segunda filha a Elisa que ficou solteira. Foram também seus padrinhos a família Perestrelo. em 1885 nascia outra filha a Leopoldina, baptizada pelo Padre António, mas tendo como padrinhos a família Magalhães de Óvoa. Morreu solteira. Um ano mais tarde nasceu-lhes a Laura. O Padre António baptizou-a, na velhinha Igreja da Santa Cruz. Os Perestrelos foram seus padrinhos. foi a única irmã que se casou, com o Sr. Abel Pais de Sousa. Tiveram como descendência dois filhos e duas filhas. Um dos filhos morreu criança. Aos quarenta e quatro anos Maria do Resgate, em 28 de Abril de 1889, nascia-lhes finalmente um rapaz a quem deram o nome de António de Oliveira Salazar que foi baptizado pelo Padre António, na Igreja da Santa Cruz. Foram padrinhos os Perestrelos. Filhos de pais evoluídos a sua educação não foi descurada. Mandaram-nos estudar para Santa Comba Dão nas aulas do tio José Duarte, funcionário do município. A mãe desejava para o seu filho António uma educação de estudos mais avançada, ao passo que o pai desejava-o como o continuador dos seus trabalhos rurais. Maria do Resgate morreu aos oitenta e um anos no dia 17 de Novembro de 1926. António de Oliveira morre a 2 de Outubro de 1932, serenamente na sua casa do bairro da estação, rodeado de todo o amor que lhe dedicavam os filhos. __________________________**********_____________________

D. Marta do Resgate de Oliveira Salazar Nasceu no Vimieiro, Concelho de Santa Comba Dão, no dia 17 de Fevereiro de 1882. Foram seus pais António de Oliveira e Maria do Resgate Salazar, irmã do Dr. Oliveira Salazar. Marta do Resgate Salazar tirou o curso de professora primária, em Viseu. Dedicou toda a sua vida ao ensino, começou por exercer em algumas terras do Concelho, mas aos 25 anos colocou-se como professora no Vimieiro, numa escola feita propositadamente para si, junto à sua casa, por iniciativa do pai que recebia de renda anual 20 escudos. Reformou-se aos 70 anos de idade e as colegas fizeram-lhe uma grande e linda festa, na Escola Cantina Salazar. Na sua casa batiam diariamente à sua porta para pedir favores como: - empregos, problemas de tribunais, etc. A todos atendia com um cartão assinado por si, pedindo o favor. Católica fervorosa tinha o seu lugar reservado na Igreja da Santa Cruz no primeiro banco da frente à esquerda, quando se entra. Morreu quando completou 100 anos de idade.










Casamento, no Vimieiro, em 1938, estando D. Marta do Resgate de Oliveira Salazar ao centro. _____________________**********_____________________
Dr. José Perestrelo Botelheiro Licenciado em direito pela Universidade de Coimbra, foi Juiz do Supremo Tribunal de Justiça em Coimbra. Nasceu na sua casa solarenga, no Vimieiro, no dia 07/12/1891 e faleceu em 29/08/1969. Filho de D. Júlia Etelvina Corte Real Perestrelo e do desembargador Dr. Manuel Fernandes Botelheiro. Casou com D. Laura Leandres Gago da Câmara nascida em 16/12/1910, na Ilha dos Açores, faleceu em 12/01/1943 em Aveiro, em consequência do parto que não se deu. Viveram quatro filhos. O Sr. Dr. José Perestrelo Botelheiro foi um bom conterrâneo e um bom cidadão. Está sepultado no cemitério do Vimieiro. Tem seu nome gravado numa placa de uma rua, desta terra.




O Dr. José Perestrelo Botelheiro e menina Vera Lúcia Silvestre do Amaral Videira. ____________________**********__________________


Dr. António Perestrelo Botelheiro Nasceu em Santa Comba Dão em 09-09-1901, na sua casa solarenga, filho de D. Júlia Etelvina Corte Real Perestrelo e do desembargador Dr. Manuel Fernandes Botelheiro. Frequentou o liceu de Coimbra e concluiu a licenciatura em ciências matemáticas na faculdade de ciências da universidade de Coimbra em 1922. Terminou em 1927 o curso de engenheiro - geógrafo na universidade de Coimbra. Em 28-05-1936 após concurso é elevado a astrónomo, no observatório astronómico de Lisboa. Exerceu o lugar de subdirector naquele observatório. Publicou muitos trabalhos, entre eles a Almanaque Náutico para uso da navegação. Publicou vários trabalhos sobre Topografia. Reformou-se como director do observatório Astronómico de Lisboa e terminou os seus dias na sua casa do Vimieiro. Casou no dia 11 de Fevereiro de 1928 com D. Maria da Trindade Pereira Monteiro Fernandes. Tiveram quatro filhos: Dr. António Carlos, D. Maria da Conceição, D. Isabel e D. Teresa. A vida continua na velha casa solarenga no Vimieiro, até aos nossos dias, com a alegria e a poesia da sua filha D. Isabel.


“A meu pai (quando faleceu).


Sinto uma saudade imensa Da última vez que te vi! Sorrias um adeus triste. As avezinhas pararam seu cantar Senti uma lágrima deslizar Ao afastar-me de ti. Partiste! Estudaste as estrelas. Olhaste os céus Não te foi difícil conhecer Deus! Se a esse jardim onde subiste te for permitido pensar No que a trás ficou... Lembra-te desta semente perdida Para aqui atirada e esquecida E que para os teus céus olhou. Esta é a primeira de muitas pétalas Que voarão para ti Junta-as para o jardim do Senhor. Quando fizeres uma flor. Eu estarei aí! 1982”


“No dia da Mãe – a minha mãe: Querida Mãe Vou escrever-te uma carta pequenina Mas meiga e cheia de saudade Hoje é só para ti – Trindade! Queria agradecer-te a vida que me deste Tudo o que sou. Adoro viver! Seria nada sem ti! Sinto uma saudade imensa Dessa casa onde eu nasci, Desse tempo que jamais voltou! Peço-te meigamente perdão Das tantas vezes que te fiz triste. Se fosse hoje, como seria diferente! Não seria somente a criança que fui Verias coisas que jamais viste. Cada minuto da minha vida Será uma oração a ti, mãe querida. Obrigada pelo pai que me deste Pela felicidade que sinto em vos ter Obrigada porque me quiseste Pois adoro viver!__________________**********_______________


"Tia Rosa, da Gare" Era assim por que era conhecida esta encantadora senhora que dava tanta alegria, à estação do caminho de ferro de Santa Comba Dão. Vendia aos viajantes do comboio, frutas, sumos, sandes, bolos... Foi uma figura típica, simpática, adorável e se na sua boca morou sempre um sorriso brincalhão, o seu peito albergava uma alma de eleição, que não ficava indiferente quando perto de si escutava a lamuria de uma desgraça. Conhecida de lés a lés do pais pela simpatia que irradiava, os seus olhos brilhavam tanto como os olhos de uma moça na primavera da vida. Morreu aos 97 anos em Dezembro de 1957. _____________________**********___________________


"A tia Ambrósia" Dona da pensão Ambrósia Ministros, altos funcionários, chefes de estado receberam abraços francos, cheios de vida e sinceridade beirã da boa tia Ambrósia. Tinha particular afeição pelos estudantes, pelos marotos dos estudantes que lhe faziam dizer coisas, aquelas palavras e frases, de muita pimenta que eram fartas de gargalhadas. Muitos lhe ficavam a dever almoços e jantares e a alguns tinha de lhes emprestar dinheiro para a viagem. A tia Ambrósia a todos sorria sentindo-se orgulhosa e feliz pelo bem que fazia. Caixeiros viajantes e empregados dos caminhos de ferro, retidos pela doença em sua casa encontravam na boa tia Ambrósia os carinhos e os cuidados de mãe. E os pobres? Como ela amava os pobrezinhos! Tantas vezes ela lhe matou a fome, quando famintos lhe batiam à porta. Podia ser rica, muito rica. Mas aquelas mãos generosas e aquele coração de ouro espalhavam todos os dias e todas as horas favores e esmolas. Fundadora do restaurante que tinha o seu nome, ela soube eleva-lo à categoria de um dos melhores e mais conhecidos do país. Morreu em 18 de Agosto de 1928. Jaz no cemitério do Vimieiro em Jazigo de Família. ____________________________**********_______________________


Dr. José Henriques Gomes Foi nosso conterrâneo, pelo coração, natural de Muna, Freguesia de S. Tiago de Besteiros do Concelho de Tondela. Nasceu a 12 de Setembro de 1857, cursou o liceu de Viseu, cursou medicina na universidade de Coimbra. Formou-se no ano de 1883 foi colocado como médico em S. João de Areias. Depois foi colocado em Mortágua onde granjeou muitas simpatias. Casou-se em 1887 com D. Sância de Gouveia da ilustre casa de Vale de Açores de quem teve três filhos, D. Sância, D. Helena, Sr. João. Em 1901 foi colocado em Santa Comba Dão como delegado de Saúde até à sua aposentação. A sua residência, que ele mandou fazer, situa-se no Vimieiro. Junto à capela do Santíssimo. Montava no seu cavalo, logo de manhã, para visitar os doentes e voltava cansado na sua existência pacifica, na sua vocação em prol de pobres e ricos a quem tratava com desvelo, em troca muitas vezes não de dinheiro mas de produtos da terra, que os aldeões agradecidos presenteavam o Sr. Doutor, nesse pequeno lugarejo que era o Vimieiro. Ele era a única providência que entrava nas casas pobres para dar socorro e aliviar o sofrimento humano. A mulher aldeã de bacia e uma toalha tinha por habito dizer: - Lave as mãos senhor doutor! Tantas histórias engraçadas se contavam, entre estas gentes, e o senhor doutor que fazia uso de todas as especialidades era um médico que cumpria com desvelo e competência e com o dever sacerdócio a sua profissão. Inteligente, espírito alegre e vivo o Sr. Dr. Henriques Gomes foi também um escritor e amador dramático, escrevendo comédias e operetas várias que fez representar com êxito em Mortágua e no velho teatro desta vila. Escreveu a Revolta do Granjal que no teatro desta vila foi varias vezes à cena. Militava no partido republicano. Morreu no dia 12 de Janeiro de 1920 e o seu funeral foi uma grande manifestação de pesar. O Dr. António Silveira discursando junto ao seu cadáver, diria: - « Meus Senhores nós militamos sempre em campos políticos opostos. Mas louvado Deus, havia na trama do nosso temperamento e dos fulcros da nossa educação princípios e sistemas que deixando com relativa facilidade tremular as nossas bandeiras aos ventos contrários, permitiam também que as hastes que as sopesavam se tocassem e unissem algumas vezes em doces afirmações de carácter de ordem, de disciplina, de amor patriótico». Está sepultado no cemitério do Vimieiro em Jazigo de família. __________________ **********___________________


Padre António Nunes de Sousa Foi o Sr. Padre António Nunes de Sousa um homem de bem pároco da Freguesia do Vimieiro que norteou a sua longa vida pelo caminho da honra e como sacerdote soube sempre cumprir os seus deveres, respeitado peloa seus paroquianos, estimado pelos seus amigos que lhe admiravam as qualidades do seu caracter de português e de beirão à antiga, franco e leal caminhando sempre de cabeça erguida. Pastoreou mais de 50 anos a freguesia do Vimieiro. Sofreu dissabores politicos quando da implantação da república. Intransigente com os seus principios politicos que defendeu com energia e convicta lealdade especialmente nas épocas das aguerridas lutas religiosas e partidárias sofrendo com alenegada coragem as arremetidas dos seus adversários. De aspecto rude o padre António ocultava um coração generoso, esquecendo e perdoando as ofensas. Foi vereador da Câmara de Santa Comba Dão, várias vezes, de que também foi presidente por mais de uma vez. Uma das primeiras enciclopedias agradece assim ao Padre António: - "Ao muito rev. Sr. António Nunes de Sousa pároco actual desta freguesia agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me e que muito estimo pois tal freguesia não se encontra nos mapas". O Padre António foi a figura chave no destino de Oliveira Salazar, já que foi ele que o enviou para o Seminário de Viseu. Faleceu no dia 4 de Março de 1934, a um Sábado, pelas 16 horas, tendo o corpo saído da sua residência, no Rojão Grande, para a Igrja da Santa Cruz onde foram realizadas as eséquias pelo Sr. Bispo de Viseu e todo o Clero do Concelho. O Sr. Padre António era Natural de Cabanas Concelho do Carregal do Sal. Compareceram ao seu funeral os familiares Sr. Manuel Pereira Cardoso inspector chefe da região escolar de Viseu, a esposa e filhas, sobrinhas do padre António e herdeiras dos seus bens. O padre António repousa no cemitério do Vimieiro em campa rasa, junto à cruz de pedra, ao fundo do cemitério. O Sr. Dr. Oliveira Salazar fez-se representar no funeral do seu grande amigo. ______________________**********______________________


António Manuel Ferreira Nasceu na freguesia do Vimieiro e faleceu no dia 11 de Setembro de 2008, com 75 anos de idade. Prestamos-lhe uma simgela homenagem de estima e consideração pelo reconhecimento das obras que fez em prol da freguesia, no que respeita à sua grande religiosidade. Pôs os seus talentos de artista em manusear o ferro nos diversos objectos do culto religioso como os candeeiros da igreja da Santa Cruz, os suportes para velas e o restauro de Santos. A menina dos seus olhos era a capela do Santissimo que ele sempre cuidou com muito esmero. Não esqueceu quase no final da sua vida a capela da Nossa Senhora da Páz, em Anta, a quem ofereceu os suportes para velas e para a Biblia. As Alminhas e o Cristo Rei são obras da sua iniciativa. Enfeitou durante muitos anos a Cruz, do encontro das cruzes, da Santa Cruz, da forma singela da cultura popular com florinhas, pérolas, laços, grinaldas em rosa e branco ou também em azul. Foi funcionário dos caminhos de ferro em Moçambique, em Nampula e Nova Freixo. Jáz no cemitério do Vimieiro.





























D. Lidia e o Sr. Manuel Ferreira (pais do Sr. António Manuel Ferreira - no centro) e irmãs, D. Gloria Ferreira e D. Olga Ferreira

_____________________********_____________________

O Senhor Enfermeiro Pedrinho




Noticia da sua morte em 1978:






Era costume todos os anos queimarem o Judas na estação, qual boneco de palha pendurado sobre o arco da ponte dos caminhos de ferro. Ridicularizava-se assim aquele que menos bem se tinha portado durante o ano. Os rapazes não sabendo quem deviam queimar nesse ano foram perguntar ao Sr. Pedrinho opinião. Ele disse: queimem-me a mim. Deu-lhes uma das suas batas brancas e vinte escudos para o petróleo. Jaz no cemitério do Vimieiro juntamente com sua mãe, em campa de pedra. Versos seus publicados na Defesa da Beira, últimos da sua vida: “SANTA COMBA DÃO - GARE Tenho amor à Cancela, Lugar onde nasci É bonita, gosto dela, Devo ficar por aqui! Não tem classe d'elite É gente trabalhadeira: E fica neste limite A Quinta da “Castanheira”. Também há prazer na vida Quando os humildes são muitos Porque ninguém está atida “A sapatos de defuntos”! Moças, inda usam brincos, Pra enfeitar as orelhas Mas, também não gastam químicos Nos lábios e sobrancelhas!... Temos “Histórias da Cruz” Que na “Rádio” vai pró ar: As lâmpadas não dão luz Mas servem pra enfeitar!... A “Autervel” tem esperança, Em serviço esmerado: O seu fiel da balança Anda muito acertado! João Viegas, de Prantos, Lá vai agora casar: Comprou a casa de Campos E vem para cá morar! Augusto, C. P. das massas, Queixa-se que não tem luz: se te faltarem anaças... Vai comprar à Santa Cruz! Ázere, melros corridos, por paparem a cereja?... E também figos nascidos Na torre da sua igreja! Ázere, bom filho tem, Fenomenal e não só: Finda no nome da mãe Deu vida à sua avó!... Os “grevistas” atrasar Uma ponte sobre o rio; Ázere quer abraçar este seu único filho...? Ázere Senhora da Paz. Daqui Senhora do Pranto. Componham as almas más por milagres do seu manto! Manuel Matos, foi ao Porto, E o “verde” fez-lhe mal: Veio de lá quase morto Mas não foi pró hospital!... ARGOS"


____________________*****__________________



Senhor José Alves Ferreira "O Ferrador da terra" O meu avô dizia muitas vezes – “Durmo em Vimieiro e trabalho em Óvoa” – Isto porque o limite das duas freguesias é o Ribeiro do Pote que separava também a casa de habitação da oficina, passando por baixo de ambas, com uma largura de três metros. - Quando por vezes ia ver um animal que estava muito mal dizia para o dono – “está preso por um fio de linha podre, vai levar aqui um “milongo” (termo angolano para remédio) que ou morre ou fica doido”. - Aos clientes que ele sabia mais pobres, na hora do pagamento dizia – “vá lá, paga só ao taxista”. Tenho 61 anos e estou ainda para encontrar uma pessoa que não gostasse e admirasse o Ti Zé Ferrador, de quem sinto um orgulho imenso de ter sido neto.

Sem comentários:

VIMIEIRO - SUAS HISTÓRIAS E VIVÊNCIAS

Quem seria a pobre velha que se chamava Jacinta Pena?
Foi sem dúvida uma habitante do Vimieiro, que os anos enterraram no esquecimento. A velha Jacinta Pena, lá nos anos de 1915, vendia na estação dos Caminhos de Ferro, tabacos, pirolitos, águas das nossas fontes, frutos dos nossos pomares. Fez o último comboio e meteu-se a caminho, de trémulos passos, na estrada enlameada, numa noite de bréu. Guiava-a uma lanterna e dezoito tostões no bolso. Nessa noite de bréu, teve um mau encontro, em plena estrada um pouco acima as casas que marginam a via pública quase em frente do caminho que dá ingresso para o Vimieiro. Aí foi cercada por ladrões que lhe roubaram o produto do dia de trabalho que foram os dezoito tostões e a lanterna que a alumiava.
Por aqui passou um ser impar de bondade, o espanhol D. Salvador Cabanes Torres, que foi um mártir. Católico fervoso, D. Salvador foi gerente da fábrica de Serração C. Dupin e Companhia, aqui no Bairro da Estação. Era casado com D. Pura Burguete Cabanes Torres, uma senhora que na capelinha do Sr. da Agonia rezava o terço em espanhol com a comunidade do Vimieiro. Os seus três filhos chamavam-se: Jesus, Maria e José.
Este senhor ajudou o meu avô materno, Salvador Rodrigues de Sá, a morrer ainda na flor de idade, quando a vida se lhe apresentava risonha e repleta de felicidade. Apertava a mão do meu avô e na outra segurava o crucifixo dando-lhe força e alento na sua passagem da vida para a morte e dizia: "força xará".
Nicanor, um filho desta terra, e filho também da costureira Srª. Maria dos Anjos chamou-lhe "um simpático cavalheiro que entre nós conta com as melhores simpatias" (27 de Outubro se 1927).
Na sexta-feira, dia 15 de Janeiro de 1929, partiu no comboio correio da manhã, perante uma sentida e derradeira despedida, dos amigos.
De Valência, Espanha, terra da sua naturalidade, mandou 14 lindas estampas alusivas à Vida de Cristo, representando a Via Sacra e medindo cada uma delas, impressas na Alemanha, 0.65*0.39, que ofertou à Igreja Matriz de Santa Comba Dão. Para a Banda Santacombadense enviou as músicas, "La Fiesta Valenciana", "El Falero Serrano", a "Cancion del Soldado" bem como muitos livros para a biblioteca Alves Mateus.
Este senhor D. Salvador e seu filho, D. José Cabanas Torres, foram mártires da Guerra Civil espanhola, pois foram fuzilados em Valência quando os marxistas desencadearam uma luta violenta contra a Igreja e os seus filhos. (1936-1939).
D. Salvador e o seu filho, não se deixaram intimidar pelas ofensas, os insultos, a morte e percorreram o caminho da cruz, para exprimir o maior testemunho aceitando voluntariamente o martírio. Aqui, não se esqueceram das suas mortes e mandaram-lhe rezar uma piedosa missa. A casa onde viveram e que foi feita especialmente para esta família, lá esta na rampa da padaria olhando o casario de Santa Comba, os caminhos de ferro, a paisagem verdejante e as janelas onde D. Pura chamava os seus filhos: Jesus,... Maria ... José ...
Vimieiro
Elsa Silvestre do Amaral

Benemérito-Escola Cantina Salazar 1946

Benemérito-Escola Cantina Salazar 1946

Fontanário do Vimieiro 1950

Fontanário do Vimieiro 1950

Bairro da Estação, 28 de Agosto de 1927

Bairro da Estação, 28 de Agosto de 1927

Santa Cruz 1956

Santa Cruz 1956