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sexta-feira, 11 de maio de 2012

quinta-feira, 22 de abril de 2010


“Roteiro de cheiros”
Sábado de manhã. Os sinos tocam a finados perturbando a beleza de um sol arredio e a tranquilidade de um curto repouso. - Quem terá morrido? Olho, instintivamente, para o outro lado da praça na esperança de ver os anúncios da morte. Dois! Aproximei-me e fico surpreendido. Sempre que conheço alguém, seja qual for a idade, a morte, mesmo que anunciada, causa-me uma certa surpresa e um profundo mal-estar, porque não consigo imaginar que venha a acontecer. Mas tem que acontecer.
Conhecia perfeitamente um dos dois. Quanto à outra, o nome dizia-me qualquer coisa, mas não consegui identificar quem era, até que, durante a tarde, me disseram quem era. Foi então que uma sucessão de pensamentos começou a percorrer o meu córtex frontal. De súbito, senti o cheiro do petróleo misturado com o ar adocicado do armazém, ambos dominados pelo forte aroma libertado pelos bacalhaus salgados pendurados das traves do armazém, a lembrar as flores de papel dos arrais populares. Gostava de cheirar aquela estranha mistura, inconfundível, de uma forma de comércio que em tempos caracterizava as pequenas comunidades. Ao odor típico do espaço comercial associei o sabor das pequenas lascas de bacalhau, que amavelmente, a dona concedia a pedido, ou que surripiava sem que visse. Chupava aqueles pedaços com um prazer difícil de explicar. Estas lembranças originaram, ato contínuo, a criação de um roteiro de cheiros e aromas que poderia identificar com os olhos fechados. Ao sair de casa, o cheiro característico da serradura da fábrica dava-me os bons dias. Ao passar pelo Costa levava nas ventas com a erupção típica de uma taverna, que quase dispensava o loureiro. Mais abaixo, a padaria anunciava a sua presença inundando-me do sabor do pão fresco, para logo a seguir levar com uma corrente de ar a cheirar a álcool proveniente da barbearia de portas abertas. Bastava dar meia dúzia de passos e o cheiro a colas marcava o território do sapateiro que, rapidamente, dava lugar aos odores nauseabundos e agressivos do talho. Passava à velocidade da luz na ânsia de me acalmar, aspirando os aromas adocicados da farmácia vizinha em que os perfumes imperavam. Mais à frente, salivava com as invisíveis nuvens de prazer provenientes da torrefacção do café ou dos amendoins, ao ponto de a roupa ficar impregnada para todo o dia. Aqui, invariavelmente, parava durante algum tempo. Ao passar pela Fornecedora não ligava aos aromas que as farinhas se entretinham a libertar dos sacos acumulados, a não ser nos dias em que a torrefacção não funcionava. Do outro lado da rua, além do cheiro típico da petroleira, o suor das mulas e dos cavalos, e os excrementos dos animais, que iam ao ferrador, não causavam grande asco. Às tantas deveria ser um mero efeito da queima do carvão e do calor provenientes das forjas do meu primo Porrudo, situado praticamente em frente. Ao passar pela Estação, o cheiro a creosote usado nas travessas estimulava os sentidos. De todos, o que mais me seduzia era o sensual cheiro a café de saco que inundava o pequeno jardim proveniente do “Zé do Café”. Um cheiro inconfundível que se perpetuava noite e dia. Na própria gare, o cheiro à cola de trigo entremeava-se com o aroma de laranjas do vendedor Humberto. Ao lado, antes de chegar aos sanitários, lançavam, frequentemente, num pequeno tanque, restos do carbureto que, em contacto com a água, libertava o gás que tinha o condão de penetrar profundamente no nariz ao ponto de me provocar dores, conseguindo, deste modo, reduzir a desagradável sensação olfactiva do mijo em decomposição. Acelerava o passo, ou melhor, corria para chegar ao jardim florido que, discretamente, perfumava os sentidos. Quando ia à vila, passava por uma tasca onde os aromas acumulados de vinho impregnavam tanto as madeiras das habitações como os paralelepípedos da rua. Se fosse pela calçada, o armazém de sal, fonte de uma secura fria e sepulcral, incomodava-me sobremaneira. Logo a seguir, passava pela fábrica de sabão que lançava as escorrências a céu aberto, obrigando-me a saltar os carreiros azulados e apontar o nariz para a resineira na esperança de aspirar os vapores inebriantes do pez. Ao descer a calçada romana retardava o passo para desfrutar a tranquilidade dos aromas das mimosas que desapareciam a meio da ponte. Neste local, aspirava longa e profundamente a frescura e o cheiro único da água doce do rio, capaz de limpar todos os cheiros e até os fedores emanantes de muitas almas. Na subida, regressavam os aromas das mimosas substituídos pelas fragrâncias das flores dos campos e dos jardins anunciadores da chegada à vila. Nesta, tinha que passar pela praça onde o cheiro a peixe conseguia reinar sobre quaisquer outros. Até as pedras não conseguiam libertar-se de tão desagradável fedor.
Cheiros? Muitos! Mesmo muitos, ao ponto de conseguir desenhar mapas com base nos mesmos. Mapas geográficos, mapas de sentimentos, mapas de angústias, mapas de desejos, mapas de tristeza e de alegria. Mapas de vida.
O que seria da vida, e da memória, se não fossem os cheiros e aromas? Uma sensaboria.
A leitura de uma morte foi suficiente para estimular um roteiro de diferentes odores. É pena que a escrita não consiga libertá-los. Talvez a leitura consiga...
Salvador Massano Cardoso

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Farmácia Monteiro



As empresas que fizeram grande o Vimieiro mas que as circunstâncias foram fechando e esta terra ficou mais empobrecida.
A Farmácia Monteiro
Que atravessou nesta localidade todo o Século XX. Fundada no principio do Século pelo Sr. Paiva, um homem do Norte que se dizia com grande experiência adquirida nas farmácias do Porto e Lisboa. Nesta época os medicamentos eram praticamente manufacturados na própria farmácia. Eram as hóstias , os supositórios, as Pílulas de ópio, os xaropes, as loções. A farmácia era um verdadeiro laboratório e entre balanças de precisão, almofarizes e tubos de ensaio faziam-se nos tempos idos o xarope de quina e ferro fosfatado com arnal para a anemia. Fostamiodo Pais de Paiva para a escrufulose. Pulmonofostol Pais de Paiva para a tuberculose. Nermifugo vegetal para os vermes.Injecção infalível para as blenorragias. Calicida Pais de Paiva para os calos. Maravilha do cabelo, para a queda do cabelo. E o Silva dentista vinha regularmente executar na farmácia Paiva, na estação, todos os trabalhos da sua especialidade.
E o Sr. Paiva, era um senhor distinto que fumava cachimbo tinha também ao lado na casa que ele mandou construir uma loja de panos, mercearia e venda ainda de caixões. Como tinha bom coração oferecia alguns para os indigentes que faleciam.
Era casado com a D. Júlia, professora de piano que em 1918 leccionou a D. Hortense Marques Viegas de Vila de Barba para o exame do 3º ano do conservatório de Lisboa que concluiu com brilhante classificação.
Depois o Sr. Paiva vendeu a farmácia ao Sr. Monteiro um homem do Norte que deu o nome à farmácia até aos dias de hoje.
A Farmácia Monteiro mudou-se para a cidade de Santa Comba Dão e a porta que durante um Século se nos abriu, fechou-se para sempre.
(Foto: Sr. Monteiro)
 
O fundador da primeira farmácia, no Vimieiro, Senhor Paiva e sua esposa professora de piano, D. Júlia



quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

RECANTOS DA NOSSA TERRA

As Alminhas
São modestos monumentos erigidos às almas, uma forma de as recordar, as venerar, as perpetuar nas encruzilhadas, nas estradas sombrias tristes como a morte.
No Vimieiro havia umas alminhas de pedra esbatida pelo tempo, cinzelada toscamente, silenciada pelo passado, escondida entre silvas, e por ninguém era notada. Hoje está embutida num altar à beira do caminho onde piedosamente lhe colocam flores e velas. è o largo das almas em sua homenagem.
António Nobre o poeta do "Só" fala-nos das alminhas numa quadra muito linda.
"Ora havia lá e ainda há umas alminhas
Com um painel antigo sobre o oratório
E têm esta legenda: Ò vós que ides passando,
não esqueceis a nós neste lume penando."


De um anónimo são estes versos:
"As almas do purgatório
Já não nos pedem riqueza
Só pedem as migalhinhas
Que caiem da vossa mesa."
Outrora os homens ao passarem pelas alminhas tiravam o chapéu e as mulheres ajoelhavam perante elas.
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Este Chafariz foi mandado construir pela Junta de Freguesia do Vimieiro em 1939, era presidente da Junta o Sr. Ernesto Moura.
Foi inaugurado em 1 de Dezembro do mesmo ano, em que se comemorava a revolução de 1640 - Nesse dia o Vimieiro vestiu-se de festa e na Escola Cantina Salazar foi oferecido um almoço a quarenta crianças, um presente do Sr. José Rufino o grande benemérito inspirador da cantina, que das terras do Brasil presenteava as crianças com compotas da goiaba, O professor Sobral enaltecia ao longo do discurso os feitos da revolução de 1640.

O fontanário foi recuperado em 2009.
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A fonte da água do empréstimo foi restaurada
A fonte da água do empréstimo há muito que se tinha calado. O seu aspecto denotava um total abandono, invadido por ervas daninhas e silvas. Já vem de muito longe a velha fonte, dizem que tem a idade dos caminhos-de-ferro da Beira Alta.
Servia as populações do Bairro Novo da Estação. A água corria sempre, sem cessar, e vinha da barreira de uma nascente da quinta das Ladeiras. Atravessava a linha dos caminhos-de-ferro e quando da reabilitação dos mesmos os seus canos foram cortados.
Brotavam águas límpidas, puras e de grande frescura, que as criadas da Tia Ambrósia, de cântaro à cabeça, usavam na sua famosa pensão. Como nota de curiosidade, de um velho jornal de 1908, um viajante que se intitulava de cavador, dirigia uma mensagem aos habitantes do Vimieiro e da estação. Diz ele que desde 1896 tinha a felicidade de viajar junto à janela do vagon e que espreitava a vista pelos campos, para si desconhecidos. Reparou que na barreira perto da estação corria água que lhe parecia ser sulfurosa, pela cor dos limos. mais à frente diz: "Ficou-me de tal forma radicada no espírito esta convicção que me obriga a olhar aquele lugar todas as vezes que lá passo. Mandem-me analisar, ela deve ter algum valor medicinal. Era agora uma mina para a estação, uma estância aquista. Mão julgueis que invento. Juro por tudo quanto há de sagrado que vi e convenci-me."
Mais de cem anos tem esta notícia. Junto desta nascente, numa nesga estreita de terra, e junto à linha florescida a horta de senhor chefe da estação. O meu pai nuns versos cheios de graça dedica-lhe esta poesia:

Fumo do meu passado
Fazia um sol brutal
Quando eu aborrecido
fui até ao Ladeiral
Chateado entristecido
Com as leis da minha sorte
Mas depois mais animado
Nestes caminhos sem norte
Fiquei pasmo, apalermado
Com as letras garrafais
Daquele letreiro inocente
Onde eu a rir e aos ais
Li um pouco paciente
E já um tanto sereno
Este aviso dum prudente
"Quidado" há veneno.
"Quidado"? Mas que heresia
isto é pior que quimbundo
E é o aviso furibundo
Com língua de magarefe
O qual a gente pasma
E que se ergue qual fantasma
Na horta do senhor chefe.

O Chafariz foi restaurado pela Junta de Freguesia do Vimieiro. Voltar a ter vida, a brotar água, a ter dignidade. Não é a mesma água de outrora, porque essa perdeu-se para sempre.
Elsa Silvestre do Amaral - Vimieiro
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O Cantinho da Saudade

O Cantinho da Saudade é um recanto da nossa terra, onde vieram ao mundo muitas crianças que feitas homens e mulheres foram úteis à sociedade e a si próprias, pela educação que os seus pais lhes deram.
No Cantinho da Saudade há alecrim, hortencias e salsa. A roseira vermelha em Maio enche-se de rosas.
Vão longe os anos dos risos das crianças, da música dos bandolins que tocavam as melodias da moda, das galinhas com toda a liberdade a esgravatar a terra, do porco a grunhir na loja, as vivências do sitio.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

SALAZAR

Em 1908 D. Carlos e o príncipe D. Filipe são assassinados pelos revolucionários; dois anos mais tarde proclama-se a república.
Em 16 anos Portugal teve 43 gabinetes, 20 sedições e oito presidentes dos quais três renunciaram, um foi deposto e outro assassinado.
Em 1926 um golpe militar em Lisboa pôs fim ao regime Parlamentar.
Alguns dias mais tarde um automóvel cheio de oficiais chegou à pacífica aldeia de Vimieiro entre pinheiros e oliveiras. Aí na sua aldeia natal Salazar de 37 anos professor de finanças e economia politica da Universidade de Coimbra passava as férias, na companhia da sua mãe.
- Precisamos de um Ministro das Finanças que seja honesto, inteligente e corajoso, disseram os oficiais. Achamos que o Senhor é o homem indicado.
Salazar sacudiu a cabeça.
- Minha mãe está muito doente. Não posso deixa-la.
Os oficiais insistiram e ele consultou a mãe.
- Aceita meu filho, disse ela. Se eles vieram até aqui, quer dizer que precisam de ti.
Salazar foi a Lisboa decidido a administrar as finanças publicas tal qual sua mãe dirigia a sua economia doméstica, nunca dispendendo mais do que se ganhava. Mas em cinco dias apenas ele compreendeu que não lhe seria possível pôr em prática esta norma antiquada e voltou para Coimbra. Completamente destituído de qualquer ambição pessoal.





Sentia-se feliz junto dos seus alunos em Coimbra.

Dois anos depois os militares voltaram novamente a bater-lhe à porta. Tinham restabelecido a ordem, mas continuavam incapazes de resolver os problemas financeiros do país. Salazar concordou com a sua nomeação para Ministro das Finanças, com a condição de que só ele seguraria os cordões da bolsa do governo. Em Abril de 1928 foi para Lisboa e por lá esteve a governar este país durante 48 anos.
« O Primeiro Ministro Salazar é

Um homem simples, um místico devotado a Deus e aos números e à sua Pátria»

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A gente se confessaria a Salazar. Seriamos capazes de lhe confiar toda a nossa fortuna sem

exigir recibo, mas detestaríamos tê-lo como examinador»

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Se eu morresse como presidente seria enterrado com pompa no Santuário do Mosteiro dos Jerónimos. O meu desejo é ser enterrado na minha terra junto dos meus pais»

O célebre soneto de Plantin « Le bonheur de ce monde»que continua a ser reproduzido no preto primitivo e era uma das raras molduras que animavam as paredes frias do escritório de Salazar.


O soneto que ele copiou pela sua mão;


Seria assim o viver simples que idealizou para si; como: ter uma casa cómoda limpa e bela. Um jardim florido e um quintal com bom vinho e árvores de fruto onde brincassem crianças e uma esposa fiel, viver sem ambições e devoção. Conservou o espírito livre e esperou na sua casa docemente a morte.

Esquerda: Campa Aberta à espera do caixão do Dr. Salazar a pessoa que se debruça é o professor Nicolau Firmino;
Direita: Homenagem a Salazar no dia 29 de Abril 2006



Cristine Garnier, que escreveu o célebre livro « Férias com Salazar»



Esquerda: Salazar caminhando junto de Cristene Garnier, na Quinta das Ladeiras, no Vimieiro; Direita:Salazar caminhando com Maria Antónia;

Esquerda:As pupilas de Salazar, Micas e Maria Antónia, familiares da Maria, sua governanta; Direita: «Onde a terra se acaba e o mar começa»;

Esquerda: Salazar lendo as noticias; Direita: «Sentei-me à sombra de um carvalho numa rocha em forma de banco»

Em cima: Casa de férias de Salazar, no Vimieiro; Em baixo: Residencia de Salazar em Lisboa;



Esquerda: Santa Comba Dão, a Ribeira e ao fundo a igreja; Direita: À saída da missa, na igreja de Santa Comba Dão



























quinta-feira, 16 de outubro de 2008

FIGURAS DA NOSSA TERRA

Os pais do Sr. Doutor António Oliveira Salazar Os pais do Sr. Doutor António Oliveira Salazar chamavam-se António de Oliveira e Maria do Resgate Salazar. Casaram em 1881. Ele já tinha ultrapassado os quarenta anos ela ia completar trinta e seis. António de Oliveira nasceu no Vimieiro e Maria do Resgate em Santa Comba Dão. Ambos de muito boas famílias. António de Oliveira era apegado à terra. Cuidava dos seus terrenos e era feitor das quintas da família Perestrelo Botelheiro. Por altura da construção dos Caminhos de Ferro da Beira Alta abriram na sua casa, em 1882,uma estalagem onde recebiam hóspedes e davam comidas. Viveram sempre modestamente e transmitiram aos filhos essa maneira de estar na vida, nunca gastaram mais do que aquilo que se ganhava. Em Fevereiro de 1882 nascia-lhes a primeira filha que veio a ser a Marta do Resgate de Oliveira Salazar, baptizada pelo Padre António e tendo como padrinhos a família Perestrelo. Em Abril de 1883 nasce-lhes uma segunda filha a Elisa que ficou solteira. Foram também seus padrinhos a família Perestrelo. em 1885 nascia outra filha a Leopoldina, baptizada pelo Padre António, mas tendo como padrinhos a família Magalhães de Óvoa. Morreu solteira. Um ano mais tarde nasceu-lhes a Laura. O Padre António baptizou-a, na velhinha Igreja da Santa Cruz. Os Perestrelos foram seus padrinhos. foi a única irmã que se casou, com o Sr. Abel Pais de Sousa. Tiveram como descendência dois filhos e duas filhas. Um dos filhos morreu criança. Aos quarenta e quatro anos Maria do Resgate, em 28 de Abril de 1889, nascia-lhes finalmente um rapaz a quem deram o nome de António de Oliveira Salazar que foi baptizado pelo Padre António, na Igreja da Santa Cruz. Foram padrinhos os Perestrelos. Filhos de pais evoluídos a sua educação não foi descurada. Mandaram-nos estudar para Santa Comba Dão nas aulas do tio José Duarte, funcionário do município. A mãe desejava para o seu filho António uma educação de estudos mais avançada, ao passo que o pai desejava-o como o continuador dos seus trabalhos rurais. Maria do Resgate morreu aos oitenta e um anos no dia 17 de Novembro de 1926. António de Oliveira morre a 2 de Outubro de 1932, serenamente na sua casa do bairro da estação, rodeado de todo o amor que lhe dedicavam os filhos. __________________________**********_____________________

D. Marta do Resgate de Oliveira Salazar Nasceu no Vimieiro, Concelho de Santa Comba Dão, no dia 17 de Fevereiro de 1882. Foram seus pais António de Oliveira e Maria do Resgate Salazar, irmã do Dr. Oliveira Salazar. Marta do Resgate Salazar tirou o curso de professora primária, em Viseu. Dedicou toda a sua vida ao ensino, começou por exercer em algumas terras do Concelho, mas aos 25 anos colocou-se como professora no Vimieiro, numa escola feita propositadamente para si, junto à sua casa, por iniciativa do pai que recebia de renda anual 20 escudos. Reformou-se aos 70 anos de idade e as colegas fizeram-lhe uma grande e linda festa, na Escola Cantina Salazar. Na sua casa batiam diariamente à sua porta para pedir favores como: - empregos, problemas de tribunais, etc. A todos atendia com um cartão assinado por si, pedindo o favor. Católica fervorosa tinha o seu lugar reservado na Igreja da Santa Cruz no primeiro banco da frente à esquerda, quando se entra. Morreu quando completou 100 anos de idade.










Casamento, no Vimieiro, em 1938, estando D. Marta do Resgate de Oliveira Salazar ao centro. _____________________**********_____________________
Dr. José Perestrelo Botelheiro Licenciado em direito pela Universidade de Coimbra, foi Juiz do Supremo Tribunal de Justiça em Coimbra. Nasceu na sua casa solarenga, no Vimieiro, no dia 07/12/1891 e faleceu em 29/08/1969. Filho de D. Júlia Etelvina Corte Real Perestrelo e do desembargador Dr. Manuel Fernandes Botelheiro. Casou com D. Laura Leandres Gago da Câmara nascida em 16/12/1910, na Ilha dos Açores, faleceu em 12/01/1943 em Aveiro, em consequência do parto que não se deu. Viveram quatro filhos. O Sr. Dr. José Perestrelo Botelheiro foi um bom conterrâneo e um bom cidadão. Está sepultado no cemitério do Vimieiro. Tem seu nome gravado numa placa de uma rua, desta terra.




O Dr. José Perestrelo Botelheiro e menina Vera Lúcia Silvestre do Amaral Videira. ____________________**********__________________


Dr. António Perestrelo Botelheiro Nasceu em Santa Comba Dão em 09-09-1901, na sua casa solarenga, filho de D. Júlia Etelvina Corte Real Perestrelo e do desembargador Dr. Manuel Fernandes Botelheiro. Frequentou o liceu de Coimbra e concluiu a licenciatura em ciências matemáticas na faculdade de ciências da universidade de Coimbra em 1922. Terminou em 1927 o curso de engenheiro - geógrafo na universidade de Coimbra. Em 28-05-1936 após concurso é elevado a astrónomo, no observatório astronómico de Lisboa. Exerceu o lugar de subdirector naquele observatório. Publicou muitos trabalhos, entre eles a Almanaque Náutico para uso da navegação. Publicou vários trabalhos sobre Topografia. Reformou-se como director do observatório Astronómico de Lisboa e terminou os seus dias na sua casa do Vimieiro. Casou no dia 11 de Fevereiro de 1928 com D. Maria da Trindade Pereira Monteiro Fernandes. Tiveram quatro filhos: Dr. António Carlos, D. Maria da Conceição, D. Isabel e D. Teresa. A vida continua na velha casa solarenga no Vimieiro, até aos nossos dias, com a alegria e a poesia da sua filha D. Isabel.


“A meu pai (quando faleceu).


Sinto uma saudade imensa Da última vez que te vi! Sorrias um adeus triste. As avezinhas pararam seu cantar Senti uma lágrima deslizar Ao afastar-me de ti. Partiste! Estudaste as estrelas. Olhaste os céus Não te foi difícil conhecer Deus! Se a esse jardim onde subiste te for permitido pensar No que a trás ficou... Lembra-te desta semente perdida Para aqui atirada e esquecida E que para os teus céus olhou. Esta é a primeira de muitas pétalas Que voarão para ti Junta-as para o jardim do Senhor. Quando fizeres uma flor. Eu estarei aí! 1982”


“No dia da Mãe – a minha mãe: Querida Mãe Vou escrever-te uma carta pequenina Mas meiga e cheia de saudade Hoje é só para ti – Trindade! Queria agradecer-te a vida que me deste Tudo o que sou. Adoro viver! Seria nada sem ti! Sinto uma saudade imensa Dessa casa onde eu nasci, Desse tempo que jamais voltou! Peço-te meigamente perdão Das tantas vezes que te fiz triste. Se fosse hoje, como seria diferente! Não seria somente a criança que fui Verias coisas que jamais viste. Cada minuto da minha vida Será uma oração a ti, mãe querida. Obrigada pelo pai que me deste Pela felicidade que sinto em vos ter Obrigada porque me quiseste Pois adoro viver!__________________**********_______________


"Tia Rosa, da Gare" Era assim por que era conhecida esta encantadora senhora que dava tanta alegria, à estação do caminho de ferro de Santa Comba Dão. Vendia aos viajantes do comboio, frutas, sumos, sandes, bolos... Foi uma figura típica, simpática, adorável e se na sua boca morou sempre um sorriso brincalhão, o seu peito albergava uma alma de eleição, que não ficava indiferente quando perto de si escutava a lamuria de uma desgraça. Conhecida de lés a lés do pais pela simpatia que irradiava, os seus olhos brilhavam tanto como os olhos de uma moça na primavera da vida. Morreu aos 97 anos em Dezembro de 1957. _____________________**********___________________


"A tia Ambrósia" Dona da pensão Ambrósia Ministros, altos funcionários, chefes de estado receberam abraços francos, cheios de vida e sinceridade beirã da boa tia Ambrósia. Tinha particular afeição pelos estudantes, pelos marotos dos estudantes que lhe faziam dizer coisas, aquelas palavras e frases, de muita pimenta que eram fartas de gargalhadas. Muitos lhe ficavam a dever almoços e jantares e a alguns tinha de lhes emprestar dinheiro para a viagem. A tia Ambrósia a todos sorria sentindo-se orgulhosa e feliz pelo bem que fazia. Caixeiros viajantes e empregados dos caminhos de ferro, retidos pela doença em sua casa encontravam na boa tia Ambrósia os carinhos e os cuidados de mãe. E os pobres? Como ela amava os pobrezinhos! Tantas vezes ela lhe matou a fome, quando famintos lhe batiam à porta. Podia ser rica, muito rica. Mas aquelas mãos generosas e aquele coração de ouro espalhavam todos os dias e todas as horas favores e esmolas. Fundadora do restaurante que tinha o seu nome, ela soube eleva-lo à categoria de um dos melhores e mais conhecidos do país. Morreu em 18 de Agosto de 1928. Jaz no cemitério do Vimieiro em Jazigo de Família. ____________________________**********_______________________


Dr. José Henriques Gomes Foi nosso conterrâneo, pelo coração, natural de Muna, Freguesia de S. Tiago de Besteiros do Concelho de Tondela. Nasceu a 12 de Setembro de 1857, cursou o liceu de Viseu, cursou medicina na universidade de Coimbra. Formou-se no ano de 1883 foi colocado como médico em S. João de Areias. Depois foi colocado em Mortágua onde granjeou muitas simpatias. Casou-se em 1887 com D. Sância de Gouveia da ilustre casa de Vale de Açores de quem teve três filhos, D. Sância, D. Helena, Sr. João. Em 1901 foi colocado em Santa Comba Dão como delegado de Saúde até à sua aposentação. A sua residência, que ele mandou fazer, situa-se no Vimieiro. Junto à capela do Santíssimo. Montava no seu cavalo, logo de manhã, para visitar os doentes e voltava cansado na sua existência pacifica, na sua vocação em prol de pobres e ricos a quem tratava com desvelo, em troca muitas vezes não de dinheiro mas de produtos da terra, que os aldeões agradecidos presenteavam o Sr. Doutor, nesse pequeno lugarejo que era o Vimieiro. Ele era a única providência que entrava nas casas pobres para dar socorro e aliviar o sofrimento humano. A mulher aldeã de bacia e uma toalha tinha por habito dizer: - Lave as mãos senhor doutor! Tantas histórias engraçadas se contavam, entre estas gentes, e o senhor doutor que fazia uso de todas as especialidades era um médico que cumpria com desvelo e competência e com o dever sacerdócio a sua profissão. Inteligente, espírito alegre e vivo o Sr. Dr. Henriques Gomes foi também um escritor e amador dramático, escrevendo comédias e operetas várias que fez representar com êxito em Mortágua e no velho teatro desta vila. Escreveu a Revolta do Granjal que no teatro desta vila foi varias vezes à cena. Militava no partido republicano. Morreu no dia 12 de Janeiro de 1920 e o seu funeral foi uma grande manifestação de pesar. O Dr. António Silveira discursando junto ao seu cadáver, diria: - « Meus Senhores nós militamos sempre em campos políticos opostos. Mas louvado Deus, havia na trama do nosso temperamento e dos fulcros da nossa educação princípios e sistemas que deixando com relativa facilidade tremular as nossas bandeiras aos ventos contrários, permitiam também que as hastes que as sopesavam se tocassem e unissem algumas vezes em doces afirmações de carácter de ordem, de disciplina, de amor patriótico». Está sepultado no cemitério do Vimieiro em Jazigo de família. __________________ **********___________________


Padre António Nunes de Sousa Foi o Sr. Padre António Nunes de Sousa um homem de bem pároco da Freguesia do Vimieiro que norteou a sua longa vida pelo caminho da honra e como sacerdote soube sempre cumprir os seus deveres, respeitado peloa seus paroquianos, estimado pelos seus amigos que lhe admiravam as qualidades do seu caracter de português e de beirão à antiga, franco e leal caminhando sempre de cabeça erguida. Pastoreou mais de 50 anos a freguesia do Vimieiro. Sofreu dissabores politicos quando da implantação da república. Intransigente com os seus principios politicos que defendeu com energia e convicta lealdade especialmente nas épocas das aguerridas lutas religiosas e partidárias sofrendo com alenegada coragem as arremetidas dos seus adversários. De aspecto rude o padre António ocultava um coração generoso, esquecendo e perdoando as ofensas. Foi vereador da Câmara de Santa Comba Dão, várias vezes, de que também foi presidente por mais de uma vez. Uma das primeiras enciclopedias agradece assim ao Padre António: - "Ao muito rev. Sr. António Nunes de Sousa pároco actual desta freguesia agradeço os apontamentos que se dignou enviar-me e que muito estimo pois tal freguesia não se encontra nos mapas". O Padre António foi a figura chave no destino de Oliveira Salazar, já que foi ele que o enviou para o Seminário de Viseu. Faleceu no dia 4 de Março de 1934, a um Sábado, pelas 16 horas, tendo o corpo saído da sua residência, no Rojão Grande, para a Igrja da Santa Cruz onde foram realizadas as eséquias pelo Sr. Bispo de Viseu e todo o Clero do Concelho. O Sr. Padre António era Natural de Cabanas Concelho do Carregal do Sal. Compareceram ao seu funeral os familiares Sr. Manuel Pereira Cardoso inspector chefe da região escolar de Viseu, a esposa e filhas, sobrinhas do padre António e herdeiras dos seus bens. O padre António repousa no cemitério do Vimieiro em campa rasa, junto à cruz de pedra, ao fundo do cemitério. O Sr. Dr. Oliveira Salazar fez-se representar no funeral do seu grande amigo. ______________________**********______________________


António Manuel Ferreira Nasceu na freguesia do Vimieiro e faleceu no dia 11 de Setembro de 2008, com 75 anos de idade. Prestamos-lhe uma simgela homenagem de estima e consideração pelo reconhecimento das obras que fez em prol da freguesia, no que respeita à sua grande religiosidade. Pôs os seus talentos de artista em manusear o ferro nos diversos objectos do culto religioso como os candeeiros da igreja da Santa Cruz, os suportes para velas e o restauro de Santos. A menina dos seus olhos era a capela do Santissimo que ele sempre cuidou com muito esmero. Não esqueceu quase no final da sua vida a capela da Nossa Senhora da Páz, em Anta, a quem ofereceu os suportes para velas e para a Biblia. As Alminhas e o Cristo Rei são obras da sua iniciativa. Enfeitou durante muitos anos a Cruz, do encontro das cruzes, da Santa Cruz, da forma singela da cultura popular com florinhas, pérolas, laços, grinaldas em rosa e branco ou também em azul. Foi funcionário dos caminhos de ferro em Moçambique, em Nampula e Nova Freixo. Jáz no cemitério do Vimieiro.





























D. Lidia e o Sr. Manuel Ferreira (pais do Sr. António Manuel Ferreira - no centro) e irmãs, D. Gloria Ferreira e D. Olga Ferreira

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O Senhor Enfermeiro Pedrinho




Noticia da sua morte em 1978:






Era costume todos os anos queimarem o Judas na estação, qual boneco de palha pendurado sobre o arco da ponte dos caminhos de ferro. Ridicularizava-se assim aquele que menos bem se tinha portado durante o ano. Os rapazes não sabendo quem deviam queimar nesse ano foram perguntar ao Sr. Pedrinho opinião. Ele disse: queimem-me a mim. Deu-lhes uma das suas batas brancas e vinte escudos para o petróleo. Jaz no cemitério do Vimieiro juntamente com sua mãe, em campa de pedra. Versos seus publicados na Defesa da Beira, últimos da sua vida: “SANTA COMBA DÃO - GARE Tenho amor à Cancela, Lugar onde nasci É bonita, gosto dela, Devo ficar por aqui! Não tem classe d'elite É gente trabalhadeira: E fica neste limite A Quinta da “Castanheira”. Também há prazer na vida Quando os humildes são muitos Porque ninguém está atida “A sapatos de defuntos”! Moças, inda usam brincos, Pra enfeitar as orelhas Mas, também não gastam químicos Nos lábios e sobrancelhas!... Temos “Histórias da Cruz” Que na “Rádio” vai pró ar: As lâmpadas não dão luz Mas servem pra enfeitar!... A “Autervel” tem esperança, Em serviço esmerado: O seu fiel da balança Anda muito acertado! João Viegas, de Prantos, Lá vai agora casar: Comprou a casa de Campos E vem para cá morar! Augusto, C. P. das massas, Queixa-se que não tem luz: se te faltarem anaças... Vai comprar à Santa Cruz! Ázere, melros corridos, por paparem a cereja?... E também figos nascidos Na torre da sua igreja! Ázere, bom filho tem, Fenomenal e não só: Finda no nome da mãe Deu vida à sua avó!... Os “grevistas” atrasar Uma ponte sobre o rio; Ázere quer abraçar este seu único filho...? Ázere Senhora da Paz. Daqui Senhora do Pranto. Componham as almas más por milagres do seu manto! Manuel Matos, foi ao Porto, E o “verde” fez-lhe mal: Veio de lá quase morto Mas não foi pró hospital!... ARGOS"


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Senhor José Alves Ferreira "O Ferrador da terra" O meu avô dizia muitas vezes – “Durmo em Vimieiro e trabalho em Óvoa” – Isto porque o limite das duas freguesias é o Ribeiro do Pote que separava também a casa de habitação da oficina, passando por baixo de ambas, com uma largura de três metros. - Quando por vezes ia ver um animal que estava muito mal dizia para o dono – “está preso por um fio de linha podre, vai levar aqui um “milongo” (termo angolano para remédio) que ou morre ou fica doido”. - Aos clientes que ele sabia mais pobres, na hora do pagamento dizia – “vá lá, paga só ao taxista”. Tenho 61 anos e estou ainda para encontrar uma pessoa que não gostasse e admirasse o Ti Zé Ferrador, de quem sinto um orgulho imenso de ter sido neto.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

VIMIEIRO

Suas histórias e vivências
Foi num dia triste de Novembro, de 1948, uma quarta-feira de um dia 3, às 18 horas.
Os ânimos perturbaram-se, pois acabara de falecer, fulminado por morte súbita, um sacerdote que caiu em plena linha férrea, quando vinha de Lisboa, e se preparava para tomar o comboio do ramal de Viseu, rumo à sua terra, uma aldeia de Tondela. Tal acontecimento não teria grande importância se o mesmo não se viesse a revestir de enorme polémica.
Quando em 1957, eu estudava em Coimbra e fazia as viagens de fim de semana, no comboio, os soldados de cabeças fora das janelas, faziam grande barulheira. No Luso, havia uma senhora que vendia, na estação, bilhas de água e lançava o seu pregão vigoroso: - Água do Luso. - E a soldadesca vociferava: - Água do Luso.
Os cenários das estações eram engalanados de flores dos seus bem cuidados jardins, dos risos das pessoas, da cor, do movimento. Eram um sinal de vida dos comboios que partiam ao som do apito do chefe da estação.
Chegava-se a Mortágua e a soldadesca gritava: - Mortágua matou o Juiz. - E do lado de lá vinha sempre a resposta: - E Santa Comba enterrou o Padre vivo.
O Padre ainda estava na flor da idade. Tinha 47 anos, chamava-se António Fernandes Monteiro e era capelão do Hospital da Misericórdia da Ericeiro. A sala de espera da estação foi transformada em câmara ardente. Aí compareceram imediatamente o subdelegado de saúde, as autoridades, os sacerdotes do Vimieiro e de Santa Comba Dão, a D. Marta e toda a gente. Depois de todas as formalidades legais é que teve lugar o funeral.
O padre era muito forte e possivelmente o caixão era de fraca qualidade. Pelos caminhos enlameados de Vimieiro, quatro homens seguravam as pegas do caixão e as mesmas desprendem-se, caindo este, com grande estrondo, no chão.
Enterraram-no no cemitério de Vimieiro, na primeira fila, ao lado direito, quando se entra.
Entretanto chega um carro com a irmã do padre a gritar que «enterraram o meu irmão vivo». O boato instalou-se e correu de boca em boca e ultrapassou as fronteiras da nossa aldeia. A campa do padre por ali ficou esquecida. Nunca ninguém lhe veio colocar uma flor, um epitáfio ou uma cruz. Somente esquecimento.
Fico, contudo, sem saber na verdade com esta história triste, quando acaba a vida e começa a morte.
Muitos anos mais tarde voltei a fazer o mesmo percurso, Santa Comba Dão - Coimbra e não encontrei a senhora das bilhas da água do Luso, os soldados que gritavam, nem as estações floridas. Tudo murchou,tudo caiu no esquecimento, tudo a morte levou...
Vimieiro

Elsa Silvestre do Amaral
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FESTAS DE SANTA CRUZ, em dias de temporal
As festas da Santa Cruz são tão antigas que se perdem na patine dos tempos. Elas são o prenúncio da Primavera em que o homem pedia a Deus boas colheitas. Estas festas das paróquias de Santa Comba têm uma certa suavidade espiritual, um certo encanto e depois é o arraial festivo e alegre. não há jornal nenhum de tempos idos que não mencionem esta bela festa.
Corria o ano de 1893, num dia 7 de Maio e o jornalista que se assina de A., descreve-nos assim a Festa de Santa Cruz: "O dia rompera claro e luminoso, o sol ardente como se fora em Agosto e assim se conservou até pouco depois do meio-dia. Justamente porém quando a população da vila se preparava para ir à romaria, o céu toldou-se de repente. Grandes, densas e plúmbeas nuvens principiaram a acastelar-se no horizonte, encobrindo o sol e tornando a atmosfera pesada e asfixiante. Instantes depois estalou a mais violenta trovoada que à roda de Santa Comba, antes ou depois dessa, se fez sentir e de mais lamentáveis consequências. Os relâmpagos cruzaram os ares em todas as direcções fendendo o espaço num ziguezaguear aterrador. O trovão ribombava com estranho fragor, caindo simultaneamente grossas cordas de chuva e de granizo muito do qual do tamanho de ovos de galinha que quebrou telhados, partiu vidraças, destruiu sementeiras, aniquilou as vinhas e arrasou os campos. Nunca e Santa Comba e arredores se assistiu a espectáculo mais confrangedor e horrível, que durou horas e parecia nunca mais ter fim..."
"Depois passados dez anos, em 1903, também no dia de Santa Cruz, que por sinal se realizou no próprio dia 3 Maio, pois calhou a um domingo, choveu tanto e tão torrencialmente que mal se pôde efectuar o encontro das cruzes e o arraial da tarde não se pôde realizar e que seria abrilhantado pelas filarmónicas de S. João de Areias e de Santa Comba Dão. As chuvas que não tinham vindo em Abril começaram de cair com estranha violência prolongando-se durante muitos dias seguidos e com tal intensidade que o rio Dão saiu fora do leito destruindo as sementeiras das terras marginais causando sérios prejuízos à agricultura."
A Santa Cruz sobrevive sempre às tempestades. Nesse dia as Cruzes vestem-se de flores simbolizando a Primavera e a simplicidade dum povo. Tantas gerações que por ali têm passado!
Afinal é curta a vida do homem mas longa a da eternidade.
Vimieiro

Elsa Silvestre do Amaral
Santa Cruz do dia 3 de Maio de 2003 - A multidão"

VIMIEIRO - SUAS HISTÓRIAS E VIVÊNCIAS

Quem seria a pobre velha que se chamava Jacinta Pena?
Foi sem dúvida uma habitante do Vimieiro, que os anos enterraram no esquecimento. A velha Jacinta Pena, lá nos anos de 1915, vendia na estação dos Caminhos de Ferro, tabacos, pirolitos, águas das nossas fontes, frutos dos nossos pomares. Fez o último comboio e meteu-se a caminho, de trémulos passos, na estrada enlameada, numa noite de bréu. Guiava-a uma lanterna e dezoito tostões no bolso. Nessa noite de bréu, teve um mau encontro, em plena estrada um pouco acima as casas que marginam a via pública quase em frente do caminho que dá ingresso para o Vimieiro. Aí foi cercada por ladrões que lhe roubaram o produto do dia de trabalho que foram os dezoito tostões e a lanterna que a alumiava.
Por aqui passou um ser impar de bondade, o espanhol D. Salvador Cabanes Torres, que foi um mártir. Católico fervoso, D. Salvador foi gerente da fábrica de Serração C. Dupin e Companhia, aqui no Bairro da Estação. Era casado com D. Pura Burguete Cabanes Torres, uma senhora que na capelinha do Sr. da Agonia rezava o terço em espanhol com a comunidade do Vimieiro. Os seus três filhos chamavam-se: Jesus, Maria e José.
Este senhor ajudou o meu avô materno, Salvador Rodrigues de Sá, a morrer ainda na flor de idade, quando a vida se lhe apresentava risonha e repleta de felicidade. Apertava a mão do meu avô e na outra segurava o crucifixo dando-lhe força e alento na sua passagem da vida para a morte e dizia: "força xará".
Nicanor, um filho desta terra, e filho também da costureira Srª. Maria dos Anjos chamou-lhe "um simpático cavalheiro que entre nós conta com as melhores simpatias" (27 de Outubro se 1927).
Na sexta-feira, dia 15 de Janeiro de 1929, partiu no comboio correio da manhã, perante uma sentida e derradeira despedida, dos amigos.
De Valência, Espanha, terra da sua naturalidade, mandou 14 lindas estampas alusivas à Vida de Cristo, representando a Via Sacra e medindo cada uma delas, impressas na Alemanha, 0.65*0.39, que ofertou à Igreja Matriz de Santa Comba Dão. Para a Banda Santacombadense enviou as músicas, "La Fiesta Valenciana", "El Falero Serrano", a "Cancion del Soldado" bem como muitos livros para a biblioteca Alves Mateus.
Este senhor D. Salvador e seu filho, D. José Cabanas Torres, foram mártires da Guerra Civil espanhola, pois foram fuzilados em Valência quando os marxistas desencadearam uma luta violenta contra a Igreja e os seus filhos. (1936-1939).
D. Salvador e o seu filho, não se deixaram intimidar pelas ofensas, os insultos, a morte e percorreram o caminho da cruz, para exprimir o maior testemunho aceitando voluntariamente o martírio. Aqui, não se esqueceram das suas mortes e mandaram-lhe rezar uma piedosa missa. A casa onde viveram e que foi feita especialmente para esta família, lá esta na rampa da padaria olhando o casario de Santa Comba, os caminhos de ferro, a paisagem verdejante e as janelas onde D. Pura chamava os seus filhos: Jesus,... Maria ... José ...
Vimieiro
Elsa Silvestre do Amaral

Benemérito-Escola Cantina Salazar 1946

Benemérito-Escola Cantina Salazar 1946

Fontanário do Vimieiro 1950

Fontanário do Vimieiro 1950

Bairro da Estação, 28 de Agosto de 1927

Bairro da Estação, 28 de Agosto de 1927

Santa Cruz 1956

Santa Cruz 1956